Entre o Corpo e a Ficção

No ecrã os corpos são perfeitos. Os toques são suaves e o prazer acontece sem hesitação.

Esta imagem idealizada passada pelos filmes e pelas séries sobre corpo e prazer – bonita, limpa, automática – e especificamente sobre a forma como acontece a relação entre dois homens não corresponde muitas vezes à realidade.

Passa-se a imagem de que tudo é perfeito e que não existem percalços, dor, situações que, por não serem abordadas, são desconfortáveis. Ninguém fala, ninguém hesita. Temos muita linguagem visual para o prazer e pouca para o desconforto. Evidentemente, isto altera a forma como olhamos para as relações sexuais. Espera-se um cenário perfeito, digno de um verdadeiro romance.

 A dor, o desconforto e o medo não são retratados. Mas eles existem e fazem parte do corpo. Se representamos os corpos – neste caso em específico os corpos queer – porque é que não mostramos a sua realidade? Ou pelo menos, a realidade de alguns (muitos). O cinema criou uma estética única de prazer irrealista que, de certa forma, apaga formas de viver e sentir o corpo. Não poderá ser esta representação dos corpos também uma forma de censura para uma comunidade que desde sempre foi ensinada a sentir vergonha do seu próprio corpo e do seu desejo?

Quantas vezes olhamos para as cenas e não conseguimos deixar de pensar que não é daquela forma que, muitas vezes, o corpo responde?

O prazer não tem de ser perfeito. Tem de ser real.

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A arte de sentir: “Eu Vou Morrer de Amor ou Resistir” de Carminho

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