O Corpo Fala Antes da Mente
O corpo fala antes da mente.
Pede mudança antes mesmo de a cabeça compreender o que é que precisa de mudar.
Esse desalinho consome-nos: a revolta de saber que queremos mais e diferente, mas não saber por onde começar.
A certeza de que algo está prestes a transformar-se, sem sabermos quando, nem como, nem em quê.
Estamos em constante mutação e acompanhar o corpo, entende-lo, senti-lo, é duro e por vezes quase impossível.
A liberdade que tanto procuramos é contraditória: não queremos pertencer ao lugar onde estamos, sabemos que não é ali.
Não nos queremos assim, queremo-nos de outra forma.
Mas onde é que se encontra esse lugar desconhecido?
Queremos ser livres e não pertencer a lado nenhum — mas não pertencer é também, de certa forma, pertencer.
É fazer parte do movimento, do inacabado, do que ainda está a ser. Há sempre um ruído interno, um corpo que pede mais do que o permitido.
E a prova de que estou ainda em mutação, é um texto que escrevi há alguns anos.
Hoje, ao relê-lo, percebo que ele continua a ser meu, mas já não sou exatamente a mesma pessoa que o escreveu.
Talvez essa seja a essência do movimento: permanecer em transformação.
Sou um ser inquieto. Uma alma que nunca quer ser aquilo que antes desejou ser.
Ando e desando e, no fim, volto ao mesmo lugar.
O abismo dos desejos e dos sonhos que agora são mas depois deixam de ser.
Um eterno incompreendido que não busca mais do que a incompreensão.
Que busca liberdade e está preso à insatisfação; que quer estar em todo o lado, mas não se sente em lugar algum.
Não existe pior destino do que não ter destino nenhum.